O “Vanquete” Parte 1: Sobre por que comer carne seria imoral


Conta-se que esse diálogo tenha ocorrido entre Ubíracles e Brunófeles em meados do século XXI, na região do Vale do Sinos, região sul do Brasil.


Sobre por que comer carne seria imoral

Brunófeles: Ubíracles! Ubíracles!

Ubíracles: O que foi Brunófeles? O que te agitas tanto? Por acaso testates positivo para Covid19???

Brunófeles: Não, não! Eu estou bem Ubíracles!!! Não é isso!

Ubíracles: Então fálas meu cupincha! Do que se trata afinal?

Brunófeles: Ubíracles! Está a viralizar nas redes sociais de que estás a promover um grande churrasco assim que voltarem as aulas presenciais na Uniatenas!!! É verdade???

Ubíracles: Sim Brunófeles, es verdad! Mas seria essa celebração que estás a te tirar o sono?

Brunófeles: Sim Ubíracles! Bem sabes que nos tempos atuais, comer carne está sendo considerado como uma grande imprudência por aqueles que estão lutando contra o infringimento de maus tratos aos animais. Por acaso tens desprezo pelos animais ó grande Ubíracles???

Ubíracles: Sim caro Brunófeles, estou ciente deste movimento. Mas neste momento creio ser deveras importante que me atualizes caro Brunófeles… por acaso tal ato, o de comer a carne presente em nosso tradicional churrasco, passou a se constituir um crime?

Brunófeles: Não Ubíracles, ainda o tal churrasco é considerado um movimento de tradição. Mas acredito que o ponto a se pensar neste momento caro Ubíracles, é se seria ético se alimentar de seres tão próximos a nós.

Ubíracles: Creio que entendi caro Brunófoles. Então o que estás a dizer é que, uma vez que pretendemos utilizar carne bovina e suína no churrasco, o boi e o porco seriam seres semelhantes aos humanos? E também que em outro movimento de tradição, na sexta-feira santa por exemplo, em que consome-se carne de peixe, seria esse também um ser semelhante aos humanos? E que então por isso a falta de ética decorre do fato de estarmos nos alimentando destes seres à que nos são semelhantes, seria isso que estás a defender nobre Brunófeles?

Brunófeles: Poderia eu dizer que sua explicação, meu grandessíssimo Ubíracles, está a definir bem os anseios aos quais encontro-me. Sabes que um conhecido dos debates filosóficos chamado Marcuro, comentou sobre uma declaração realizada na Universidade de Cambridge, onde em leitura deste tal documento, descobri que os realizadores destes escritos conseguiram com uma quantidade significativa de evidências, declarar que nós humanos não somos os únicos a ter consciência. Sendo assim meu amigo, uma grande parte dos animais compartilham conosco os sentimentos de dor, sofrimento, memória, medo, prazer, emoções, entre outros comportamentos conscientes. Portanto, bem como falastes meu caro mentor Ubíracles, é essa proximidade, e essa capacidade de sentirem o mundo de forma tão próxima a nós humanos, que me inquieta os pensamentos e me proporciona noites de insônia.

Ubíracles: Muito perspicaz meu caro Brunófeles! De certa forma já respondestes a pergunta que faria em seguida: se quais seriam essas semelhanças e se estas teriam sido comprovadas cientificamente. Creio que assim já posso concluir que existem características que nos tornam semelhantes aos animais, mas que entretanto, ainda existem características que nos diferenciam deles e que, por isso, dissestes que os animais nos são semelhantes e que, caso contrário, na ausência de características exclusivas à nós humanos, creio que então terias afirmado serem os animais não semelhantes, mas iguais à nós humanos. Estaria certo em meu raciocínio estimado Brunófeles?

E também caro Brunófeles, aproveito para lhe perguntar se, para facilitar nossa compreensão, poderíamos afirmar dessa forma que estamos tratando de dois grandes grupos, a partir das características que mencionastes: o dos animais e dos humanos pois, apesar das semelhanças, não podemos dizer que são iguais, pois ainda diferenciam-se por outras características diferente daquelas que mencionastes anteriormente, concordas?

Brunófeles: Bom meu caro Ubíracles, espero não desaponta-lo, mas não pretendia eu dizer que os animais são iguais ao ser humano, talvez nem poderia, levando em consideração as tantas diferenças que possuímos, entre uma delas a capacidade de planejar a longo prazo. Por exemplo, um animal não conseguiria, ao menos até onde os estudos científicos são capazes de comprovar até o momento, planejar sua vida para daqui 5 anos, enquanto um ser humano poderia realizar esse planejamento, mesmo que não fosse alcançado tal objetivo planejado. Poria eu até mesmo citar a astúcia do chimpanzé chamado Santino, que vive no zoológico de Furuyik, na Suécia, esse pequeno individuo recolhia pedras e as escondia horários antes da abertura do zoológico para durante as visitações arremessá-las contra os visitantes, para citar um exemplo de planejamento dos animais, mas mesmo nesse exemplo o planejamento seria de curto prazo e não tão avançado quanto o do ser humano.

Sabes meu grande Ubíracles, concordando com o seu segundo questionamento, temos boas evidências para concordar que os animais possuem diferenças do ser humano, assim como todas espécies possuem diferenças umas das outras. Entretanto meu companheiro os meus grandes devaneios diriam que não precisaríamos ser iguais ao animais para respeitá-los, principalmente por serem seres que demonstram o interesse de viver assim como nós humanos.

Por favor, meu caro Ubíracles, ajuda-me a acalmar tais tempestades que ocorrem em meus pensamentos, estarias eu sendo mais romântico do que racional?

Ubíracles: Estimado Brunófeles, entendo seu ponto de vista. Mas é conveniente lembrar-te que em outras de nossas conversas falamos à respeito de sua paixão pelos animais, e que por isso, sua missão em colocar essa emoção de lado para nossa reflexão seria para ti um desafio extra, lembras? Frente seu conflito entre romantismo e racionalismo, achei prudente lembrar-te, uma vez que onde há fumaça (dúvida) pode haver fogo.

Bueno, concluo que concordastes comigo então acerca de que os humanos são diferentes dos animais, mas que, em virtude daquilo que nos assemelham, e também – como dissestes agora – em função daquilo que nos diferenciam, não deveríamos nos alimentar deles. Partiremos daqui em frente desta premissa, de acordo?

Se concordas, aproveito o ensejo para perguntar-te agora caro Brunófeles: aceitarias também a preposição de que a natureza é perfeita em sua essência e em tudo que dela se manifesta? Incluindo aqui os animais e os humanos?

Brunófeles: Como poderias esquecer de tal compromisso meu caro Ubíracles, me destes bons conselhos para que de nossa atual conversa possamos tirar conclusões embasadas na razão, e sendo esse tal objetivo não deixareis que a emoção  intervenha.

Entretanto, voltando então ao nosso eixo principal, sem mais delongas, creio que preciso concordar com sua colocação meu caro amigo, pessoalmente não conseguiria agora em meus pensamentos encontrar falhas no que a natureza exerce.

Ubíracles: Excelente caro Brunófeles. Sendo assim, visto que estamos à tratar de questões alimentares, ou seja, se devemos ou não nos alimentar de outros animais, há de concordares também de que existe na natureza, perfeita em sua essência conforme já concluímos, os animais ditos carnívoros, os ditos herbívoros e os ditos onívoros. Concordas também com essa definição científica?

Brunófeles: Pois bem, contra fatos não há argumentos meu caro Ubíracles! Concordo com tal definição.

Ubíracles: Ótimo! Estamos nos entendendo caro Brunófeles! Uma vez que estamos alinhados em nossas proposições, prometo em breve chegar ao cerne da questão!

Antes disso porém, estimado Brunófeles, pergunto-te se concordas que, se a natureza em sua perfeição – como já havíamos concordado – proveu aos carnívoros caracterísicas biológicas que os obrigam a se alimentar de outros animais, o fez em sua perfeição e que os animais deste grupo, ao caçar, matar e se alimentar de outros animais não incorreriam por esse motivo em nenhum dilema moral apesar das características comportamentais conscientes presentes nestes e nos demais animais como afirmastes no início?

Brunófeles: Perfeito caro Ubíracles, levantando apenas o ponto de que nenhum destes animais possuí a capacidade da razão, e que seus comportamentos são instintivos, vejo aqui que não terias motivo para descordar de tal descrição.

Ubíracles: Certo caro Brunófoles, mas me refiro ao aspecto biológico deste grupo de animais em específico. Imaginemos uma situação hipotética, em que a natureza também proveu aos animais carnívoros a capacidade da razão como dizes, mas ao mesmo tempo os fez biologicamente carnívoros, ou seja, ainda que dotados hipoteticamente de razão, aos animais deste grupos não haveria outra opção senão a de se alimentar de outros animais. Dessa forma, ao acrescentarmos hipotéticamente a capacidade da razão aos carnívoros, uma vez que a natureza é perfeita e os criou desta forma, ainda assim estes animais não incorreriam em um dilema moral, pois continua sendo de sua natureza se alimentar de outros animais. Concordas com esta minha afirmação estimado Brunófeles?

Brunófeles: Pois bem grande Ubíracles, vejo que não podendo estes animais se alimentarem de outra coisa a não ser carne, creio que devo concordar com sua hipótese.

Mas vejamos meu caro Ubíracles, continue a expor seus pensamento, estou deveras instigado com tais questões e creio que estais a criar um grande dilema a ser debatido e refletido.

Ubíracles: Certo caro Brunófeles, é de meu desejo tanto quanto o seu elucidarmos logo essa questão!!! Mas acalma-te que lá chegaremos!

**Para isso, caro Brunófeles, necessito saber agora se concordas com o que irei lhe perguntar. Quanto à capacidade da razão que mencionastes. Diria que a natureza, em sua perfeição, proveu uma perfeita e igual capacidade de razão à todos os seres ou poderíamos dizer que esta teria provido os recursos para que cada ser tenha condições de desenvolvê-la ao longo de sua existência? E caso concorde com este último argumento, se podemos admitir então que a capacidade de razão pode ocorrer em vários níveis nos seres onde, observando os seres de uma mesma espécie, teríamos indivíduos dotados com uma maior ou menor capacidade de razão. Não es verdade?

Brunófeles: Pois bem meu caro Ubíracles, se bem entendido a sua primeira questão eu concordaria com a premissa de que não podemos dizer que a natureza promoveu uma igual capacidade de razão para todos os seres, mas sim que cada ser tem a capacidade de desenvolver a sua razão, claro que com a limitação proposta pela natureza do individuo, ou seja, como dialogamos anteriormente dissestes que os humanos e animais não são iguais por possuírem características diferentes e acredito que essas diferentes capacidades de razão seriam uma dessas características.

Sendo assim meu grandessíssimo Ubíracles, vejo-me concordando então com sua segunda pergunta. De tal forma, acredito que sim, seres de uma mesma espécie podem desenvolver uma capacidade de razão maior ou menor.

Ubíracles: Mui bueno Brunófeles! Creio que com isso devas concordar também que, frente à uma determinada escolha com diferentes opções, dois indivíduos de uma mesma  espécie, mas com capacidades de razão diferentes pelos motivos que comentamos antes, farão suas escolhas de acordo com a capacidade de razão de cada um, não é mesmo?

Brunófeles: Muito perspicaz tal raciocínio caríssimo Ubíracles. Claramente concordaria com tal afirmação.

Ubiracles: Nesse caso grande amigo, coloco a seguinte situação hipotética: dois ursos, onívoros por natureza, foram agraciados também com a capacidade da razão, – porém um urso, em virtude das circunstâncias, a tenha desenvolvido mais do que o outro – e ambos ficaram a par das descobertas recentes que afirmastes no início, recebendo a notícia de que os peixes de que se alimentam, bem como os demais animais do bosque onde vivem, possuem comportamentos conscientes.

Concordas primeiramente que, nesta situação hipotética, até o momento da descoberta, nenhum dos ursos incorria em algum dilema moral pelo fato de se alimentarem de peixes, uma vez que a natureza em sua perfeição, assim o permitia?

Brunófeles: Concordo!

Ubíracles: Então agora, ao que se sucede a partir da descoberta que foi revelada aos ursos: um deles, o que possui maior capacidade racional, entende em sua concepção que, em função do comportamento consciente do peixe, ele não deverá mais se alimentar do mesmo; o outro urso por sua vez, que possui menor capacidade racional, não possui o mesmo entendimento e continua se alimentando de peixes. Pergunto caro Brunófeles, o segundo urso, que em virtude das circunstâncias desenvolveu menos sua capacidade racional que o outro, estaria incorrendo em um dilema moral após ter sido colocado a par da descoberta? Sendo que, acerca da descoberta feita, a natureza – sábia e perfeita – o proveu biologicamente para se alimentar de peixes?

Brunófeles: Muito bem meu caro Ubíracles, creio que entendi sua colocação, mas precisaria aqui perguntar para melhor pensar e chegar a uma conclusão. Os ursos como em seu exemplo poderíamos então compara-los aos seres humanos? Se sim, como poderíamos dizer que um teve a capacidade racional maior que o outro a partir do momento que ambos tiveram a mesma informação? Ambos sabem que os peixes possuem consciência, se ambos sabem o que é consciência, e possuem uma razão passível de mesmo desenvolvimento, como seria justificável continuar comer peixe para um desses desses ursos e para o outro não?

Ubíracles: Pois bem caro Brunófeles. Lembro que havíamos concordado anteriormente que indivíduos de uma mesma espécie, com capacidade de razão diferentes pelos motivos que enunciamos, fariam suas escolhas de acordo com a capacidade da razão de cada um, certo? É disto que eu trato nobre amigo. Frente à uma nova informação revelada, ambos os ursos tiveram à sua frente uma escolha a ser feita. Estes processaram a informação de acordo com a capacidade racional de cada um e, conforme havia entendido anteriormente, é em função disso é esperado que não necessariamente dois indivíduos, com capacidade de razão diferentes, façam sempre as mesmas escolhas diante de uma mesma situação.

É por este mesmo motivo caro Brunófoles, que os humanos diferem-se muito mais entre si do que os animais, justo em função dos diferentes níveis de desenvolvimento da capacidade racional de cada um, não achas? Ou esperas que dois indivíduos de uma mesma espécie, com diferentes capacidades de razão, façam exatamente as mesmas escolhas frente à uma determinada informação? Creio que não seja dessa forma.

Convertamos os ursos em seres humanos como desejas o nobre pensador. Eu, Ubíracles, segundo minha capacidade racional, não considero imoral me alimentar de outros animais. Creio que a natureza é perfeita e que os onívoros assim foram concebidos por ela para se alimentarem de outros animais e também de vegetais. O fato da descoberta do comportamento consciente dos animais dos quais nos servem de alimento não muda, em minha humilde concepção caro Brunófeles, os propósitos pelos quais a natureza nos fez onívoros em vez de herbívoros.

É como se a natureza fosse um fabricante de automóveis, que planeja e desenvolve um veículo flex, para utilizar ambos combustíveis: álcool e gasolina. Entretanto, esse veículo será vendido exclusivamente em um país em que, de alguma forma, todos os habitantes desse país abastecem somente com álcool, pois entendem que é imoral a utilização da gasolina uma vez que prejudica o meio ambiente. Não teria o fabricante cometido um erro ao desenvolver um veículo flex para esse país?

Dessa forma, segundo minha capacidade racional caro Brunófeles, que é diferente da sua e diferente de qualquer outro ser humano – e aqui não digo melhor ou pior, mas diferente – sou levado a crer que a natureza não cometeria esse erro e, portanto, não se trata de um ato imoral continuar se alimentando de outros animais, independente de uma descoberta que revelou um comportamento que sempre existiu.

Talvez caro Brunófeles, se viermos a falar de compaixão, da mesma forma esta se apresentará, assim como a capacidade da razão, em diferentes níveis de desenvolvimento entre os indivíduos de uma mesma espécie, concordas? Com isso, percebo que minha escolha e os motivos pelos quais ainda acredito não ser imoral se alimentar de outros animais, seja em função do resultado combinado dos meus níveis de capacidade da razão e de compaixão. Não estaria certo, mas suspeito que o que possa estar me faltando nobre colega, é mais compaixão. Ao mesmo tempo, não acredito que podemos dizer que alguém pratica algo imoral, nesse caso, por não elevar seu nível de compaixão frente à uma descoberta reveladora, ou podemos caro Brunófeles? Agora sou eu quem se encontra deveras preocupado caro amigo!

Brunófeles: Muito bem meu caro Ubíracles, parece que conseguistes por fim acabar com minha angústia e nortear os meus pensamentos para um novo caminho.

Sabes que assim como já havia concordado, mas ainda com dúvidas, agora entendo o queres expressar e concordo com maior convicção. Os seres humanos assim como os animais possuem níveis diferentes de razão, claro que os animais limitados por não poderem chegar até o nível da razão humana, mas que cada um em sua espécie possui uma margem de razão maior ou menor, em nós seres humanos creio que poderíamos até mesmo citar a educação por exemplo, pois essa nos ajuda a ter uma base racional para tomar determinadas decisões.

Pensando desta forma meu grande amigo Ubíracles, logo me pulou aos pensamentos um exemplo sobre o que viemos debatendo ao longo desta tarde. Falo então do período da escravidão, onde neste tempo encontramos o mesmo problema que encontramos em nosso diálogo, pois tínhamos pessoas com capacidades de razão diferentes e por isso existia um debate sobre se era certo um indivíduo de cor negra ser escravizado ou não. Penso então, e creio que concordas comigo caro amigo, que não poderíamos julgar como imorais pessoas que viveram em tal época e seguiram uma determinada cultura onde se era comum possuir escravos, logo, também não podemos fazer isso com as pessoas que em nosso tempo optam por comer carne, pois além de níveis de razão diferentes ainda possuímos uma cultura que a muito tempo se é comum tal hábito. Mas, entendo que assim como evoluímos e hoje temos uma maior noção de que a cor de pele é uma questão da quantidade de melanina que possuímos e não uma questão de inferioridade, tenho plena certeza de que seguiremos evoluindo e no futuro olharemos para esse episódio de nosso diálogo como olhamos hoje para o episódio da escravidão.

Por fim mestre Ubíracles, gostaria novamente de concordar com a perfeição da natureza, pois como ela nos fez Onívoros isso significa que podemos nos alimentar tanto de carnes como de vegetais. Mas a natureza ainda nos deu a capacidade de uma razão superior na qual podemos usa-la para refletir e assim diferente dos ursos, que por exemplo agem de forma instintiva para conseguir seus alimentos, nós humanos podemos pensar sobre porque comemos determinados alimentos e se isso consiste em algo positivo ou negativo, assim como podemos descobrir elevando nosso nível de razão que não precisamos ingerir carne para sobreviver e que a ingerimos por uma questão de prazer. Ou seja, de podemos escolher entre uma forma de alimentação ou outra não temos ninguém mais a agradecer se não a nossa perfeita natureza.

Sabe caro amigo, acredito que progredimos muito em nossa conversa e penso ainda que seria deveras importante continuar nossos diálogos. Assim como chegamos a conclusão de que atualmente não se é imoral comer carne, poderíamos buscar esclarecer em nossos pensamentos futuros as contribuições da compaixão para tal assunto, pois acredito que se tratando de seres conscientes devemos esgotar nosso esforços para que estes não saiam prejudicados.

Enfim, poderias eu levar alguns vegetais para sua confraternização, grande mestre e amigo Ubíracles?

Ubíracles: Grande satisfação me provém nobre e estimado discípulo Brunófeles! Mais importante que termos razão é sermos felizes, incluindo também a felicidade dos animais! Percebo que hoje em dia recebemos os alimentos de outros seres prontos e embalados onde em nada se parecem com o ser em si! Tenho convicção de que meu nível de compaixão se elevaria instantaneamente caso tivesse que abater um animal para consumi-lo e, assim, é muito pouco provável que fosse me alimentar dele nestas condições havendo outras opções como muito bem colocastes.

Percebo ser difícil o caminho da argumentação racional contra a perfeição da natureza, que concebeu os onívoros racionais a biologia para que se alimentassem de outros seres. Por isso, embora ainda me alimente de outros animais, muito me interessa explorarmos a questão da compaixão para quem sabe assim contribuirmos para preservação da vida dos seres conscientes.

Mas não se preocupe caro Brunófeles! É com o maior prazer que compartilharei uma ala exclusiva em minha churrasqueira para proveres o assado dos teus vegetais e legumes, pois agora, diferente de antes, sei que não me olharás com o ar da reprovação da imoralidade e sim com o olhar da cumplicidade de que estamos a buscar juntos o melhor para os seres conscientes.

<fim deste diálogo>

 

 

Leave a comment