Encheiridion – Epicteto
Ubirajara T Schier
1. ENCHEIRIDION
Para que serve e a quem se destina:
“O termo grego encheiridion se diz do que está à mão, sendo equivalente ao termo latino manualis, “manual” em nossa língua.” (Epicteto, pg.20)
“Assim, o Encheiridion serve não como uma introdução aos que ignoram a filosofia estoica, mas antes àqueles já familiarizados com os princípios do Estoicismo, para que tenham uma síntese que possam sempre levar consigo e utilizar.” (Epicteto, pg.20)
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2. BIOGRAFIA
Escravidão: “Epicteto teria chegado a Roma como servo de Epafrodito, secretário (encarregado de receber petições) de Nero, segundo Suetônio; chefe dos guarda‑costas de Nero, segundo Suidas.” (Epicteto, pg.10)
Nascimento e Morte: “Não é possível determinar precisamente as datas de nascimento e morte de Epicteto. A partir desses cálculos e conjecturas, Schenkl estima as datas de nascimento e morte de Epicteto entre 50 e 138, supondo que ele estaria vivo sob Adriano e morto antes dos 90 anos. Dobbin, embora concordando que isso é consistente com as fontes, prefere, pela imprecisão delas, dizer simplesmente que Epicteto floresceu em 110.” (Epicteto, pg.12-13)
Iniciação Filosófica: ” Quanto a Caio Musônio Rufo, professor de filosofia de Epicteto, que o menciona em Diatribes I.1.27 e I.9.29, observando que ainda era escravo enquanto aluno dele, Suidas nos diz ser ele um tirreno (etrusco), natural de Volsínios, um filósofo dialético e um estoico.” (Epicteto, pg.16)
Filósofo-Orador: Depois de ser aluno de Rufo, Epicteto tornou‑se filósofo‑orador nas ruas de Roma (cf. Diatribes II.12.17‑25). Após ter sido expulso de Roma por Domiciano, Epicteto retirou‑se para Nicópolis, cidade localizada na entrada do golfo Ambrácico, no Épiro, fundada por Augusto em comemoração à sua vitória na batalha de Actium.” (Epicteto, pg.17)
Reconhecimento: ” O reconhecimento de Epicteto na Antiguidade é testemunhado por Favorino, protegido de Adriano. Aulo Gélio também nos informa que Herodes Ático considerava Epicteto como o maior dos estoicos, o que indica que os textos de Epicteto circulavam após sua morte e que Epicteto já era então renomado. Marco Aurélio exaltou Epicteto diversas vezes e chegou a colocá‑lo ao lado de Crisipo e Sócrates.” (Epicteto, pg.19)
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3. Do que trata da divisão entre o que está e o que não está sob nosso encargo
“ephi hemin“: Constitui o primeiro ponto a ser considerado sobre as coisas. “Ephi hemin” não possui tradução direta para o português e foi interpretado de diferentes maneiras por diferentes autores. Assim, segundo a versão de Boter (1999):
“[1.1] Das coisas existentes, algumas são encargos nossos, outras não.” (Epicteto, pg.35-36)
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Este é o primeiro códice da obra e constitui primeiro ponto a ser observado em qualquer questão. Para uma dada situação que nos é apresentada, é preciso identificar se trata de algo que nos diz respeito ou não. Esta é a primeira pergunta a ser respondida. Diferente da versão de Boter, acredito que existem coisas que não são de nossa responsabilidade, mas por nos afetar direta ou indiretamente, nos dizem respeito. A resposta à este códice representa a primeira decisão a ser tomada e quais serão as ações posteriores.
“[1.3] Lembra então que, se pensares livres as coisas escravas por natureza e tuas as de outrem, tu te farás entraves, tu te afligirás, tu te inquietarás, censurarás tanto os deuses como os homens. Mas se pensares teu unicamente o que é teu, e o que é de outrem, como o é, de outrem, ninguém jamais te constrangerá, ninguém te fará obstáculos, não censurarás ninguém, nem acusarás quem quer que seja, de modo algum agirás constrangido, ninguém te causará dano, não terás inimigos, pois não serás persuadido em relação a nada nocivo.” (Epicteto, pg.36-37)
“[1.5] Então pratica dizer prontamente a toda representação bruta: “És representação e de modo algum o que se afigura”. Em seguida, examina-a e testa-a com essas mesmas regras que possuis, em primeiro lugar e principalmente se é sobre coisas que são encargos nossos ou não. E caso esteja entre as coisas que não sejam encargos nossos, tem à mão que: ‘Nada é para mim’.” (Epicteto, pg.37-38)
A resposta à primeira pergunta, segundo Epicteto, irá nos livrar de qualquer preocupação em relação à todas as coisas que não nos dizem respeito. Devemos simplesmente tratar essas coisas como se não existissem. Somente por meio deste primeiro códice Epicteto podemos nos livrar da preocupação de toda carga que não seja nossa para, assim, somente preocupar-nos em fazer algo com as que de fato são.
4. Das coisas que não precisamos nos preocupar porque não nos dizem respeito
“[14b] O senhor de cada um é quem possui o poder de conservar ou afastar as coisas desejadas ou não desejadas por cada um.
Então, quem quer que deseje ser livre, nem queira, nem evite o que dependa de outros. Senão, necessariamente será escravo.” (Epicteto, pg.44)
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– Desejos e Repulsas: “[2.1] Lembra que o propósito do desejo é obter o que se deseja, e o propósito da repulsa é não se deparar com o que se evita. Quem falha no desejo é não-afortunado. Quem se depara com o que evita é desafortunado.” (Epicteto, pg.38)
– Quanto ao quê esperar dos que nos são próximos: “[14a] Se quiseres que teus filhos, tua mulher e teus amigos vivam para sempre, és tolo, pois queres que as coisas que não são teus encargos sejam encargos teus, como também que as coisas de outrem sejam tuas. Do mesmo modo, se quiseres que o servo não cometa faltas, és insensato, pois queres que o vício não seja o vício, mas outra coisa. Mas se quiseres não falhar em teus desejos, isso tu podes. Então exercita o que tu podes.” (Epicteto, pg.38)
– Quanto as batalhas a serem travadas: “[19a] Podes ser invencível se não te engajares em lutas nas quais vencer não depende de ti.” (Epicteto, pg.46)
– Quanto à inveja e ao ciúme de outrem: “[19b] Ao vires alguém preferido em honras, ou muito poderoso, ou mais estimado, presta atenção para que jamais creias – arrebatado pela representação – que ele seja feliz. Pois se a essência do bem está nas coisas que são encargos nossos, não haverá espaço nem para a inveja, nem para o ciúme. Tu mesmo não irás querer ser nem general, nem prítane ou cônsul, mas homem livre. E o único caminho para isso é desprezar o que não é encargo nosso.” (Epicteto, pg.46-47)
– Quanto ao ocupar-se em desejar agradar alguém: “[23] Se alguma vez te voltares para as coisas exteriores por desejares agradar alguém, sabe que perdeste o rumo. Basta que sejas filósofo em todas as circunstâncias. Mas se desejares também parecer filósofo, exibe-te para ti mesmo – será o suficiente.” (Epicteto, pg.48)
– Quanto ao como lidar com as coisas exteriores: “[13] Se queres progredir, conforma-te em parecer insensato e tolo quanto às coisas exteriores. Não pretendas parecer saber coisa alguma. E caso pareceres ser alguém para alguns, desconfia de ti mesmo, pois sabe que não é fácil guardar a tua escolha, mantendo–a segundo a natureza, e, ao mesmo tempo, as coisas exteriores, mas necessariamente quem cuida de uma descuida da outra.” (Epicteto, pg.44)
– Quanto ao apego às pessoas próximas: “[14a] Se quiseres que teus filhos, tua mulher e teus amigos vivam para sempre, és tolo, pois queres que as coisas que não são teus encargos sejam encargos teus, como também que as coisas de outrem sejam tuas.” (Epicteto, pg.44)
– Quanto às opiniões dos outros: “[16] Quando vires alguém aflito, chorando pela ausência do filho ou pela perda de suas coisas, toma cuidado para que a representação de que ele esteja envolto em males externos não te arrebate, mas tem prontamente à mão que não é o acontecimento que o oprime (pois este não oprime outro), mas sim a opinião sobre o acontecimento.” (Epicteto, pg.45)
– Quanto ao sentir-se mal por não ser honrado por outrem: “[24.1] Que estes raciocínios não te oprimam: “Viverei sem ser honrado e ninguém serei em parte alguma”. Pois se a falta de honra é um mal – como o é –, não se pode ficar em mau estado por causa de outro, não mais do que em situação vergonhosa. É ação tua obter um cargo público ou ser convidado para um banquete? De modo algum. Como então não obter um cargo ou não ser convidado para um banquete é ser desonrado?” (Epicteto, pg.49)
5. Das coisas que precisamos nos preocupar por que nos dizem respeito
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– REPRESENTAÇÕES E OPINIÕES:
[3] Considerar a natureza das coisas e não das representações que fizemos delas. Exemplo: “Quando beijares ternamente teu filho ou tua mulher, diz que beijas um ser humano, pois se morrerem, não te inquietarás.” (Epicteto, pg.39)
[5a] “As coisas não inquietam os homens, mas as opiniões sobre as coisas. Então, quando se nos apresentarem entraves, ou nos inquietarmos, ou nos afligirmos, jamais consideremos outra coisa a causa, senão nós mesmos – isto é: as nossas próprias opiniões.” (Epicteto, pg.40)
– PROPÓSITO:
[4] Frente uma dificuldade, lembrar-se que o importante é atingir o propósito que o impulsionou a agir. Exemplo: “Quero banhar-me e manter a minha escolha segundo a natureza”. E do mesmo modo para cada ação. Pois se houver algum entrave ao banho, terás à mão que “Eu não queria unicamente banhar-me, mas também manter minha escolha segundo a natureza – e não a manterei se me irritar com os acontecimentos.” (Epicteto, pg.40)
– OFENSAS E ELOGIOS:
[5b] “É ação de quem não se educou acusar os outros pelas coisas que ele próprio faz erroneamente. De quem começou a se educar, acusar a si próprio. De quem já se educou, não acusar os outros nem a si próprio.” (Epicteto, pg.40)
[20] “Lembra que não é insolente quem ofende ou agride, mas sim a opinião segundo a qual ele é insolente. Então, quando alguém te provocar, sabe que é o teu juízo que te provocou. Portanto, em primeiro lugar, tenta não ser arrebatado pela representação: uma vez que ganhares tempo e prazo, mais facilmente serás senhor de ti mesmo.”
[33.14] “Nas conversas, desiste de lembrar, frequente e desmedidamente, as tuas ações e aventuras perigosas, pois não é prazeroso para os outros ouvir as coisas que te aconteceram quanto te é lembrá-las.”
[6] Não se exaltar por nenhuma vantagem de outrem: Exemplo: ” Mas quando tu, exaltando-te, disseres: “Possuo um belo cavalo”, sabe que te exaltas pelo bem do cavalo. Então o que é teu? O uso das representações. Desse modo, quando utilizares as representações segundo a natureza, aí então te exalta, pois nesse momento te exaltarás por um bem que depende de ti.” (Epicteto, pg.41)
6. PRINCÍPIOS DE CONDUTA
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6.1. EXAMINAR A NATUREZA E QUALIDADE DAS COISAS
[29.1] A respeito de cada ação, examina o que a antecede e o que a sucede e então a empreende. Senão, primeiro te entusiasmarás e, por não teres ponderado sobre as consequências, depois, quando estas se mostrarem vergonhosas, desistirás.
[29.7] Examina essas coisas se queres receber em troca delas a ausência de sofrimento, a liberdade e a tranquilidade. Caso contrário, não te envolvas.
6.2. AVALIAR OS RECURSOS E CAPACIDADES
[10] Quanto a cada uma das coisas que sucedem contigo, lembra, voltando a atenção para ti mesmo, de buscar alguma capacidade que sirva para cada uma delas.
[29.5] Homem! Examina primeiro de que qualidade é a coisa, depois observa a tua própria natureza para saber se a podes suportar. Desejas ser pentatleta ou lutador? Olha teus braços e coxas. Observa teus flancos, [29.6] pois cada um nasceu para uma coisa.
[37] Se aceitares um papel além de tua capacidade, tanto perderás a compostura quanto deixarás de lado aquele que é possível que bem desempenhes.
6.3. VERIFICA OS PRECEITOS E AGE SEGUNDO OS MESMOS
[38] Do mesmo modo que, ao caminhares, tomas cuidado para que não pises em um prego ou não torças o pé, assim também toma cuidado para que não causes dano à tua faculdade diretriz. Se guardarmos atentamente essa regra, nós empreenderemos cada ação com mais segurança.
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[8] “Não busques que os acontecimentos aconteçam como queres, mas quere que aconteçam como acontecem, e tua vida terá um curso sereno.” (Epicteto, pg.42)
[11] O que te importa por meio de quem aquele que Te dá a pede de volta? Na medida em que ele der, faz uso do mesmo modo de quem cuida das coisas de outrem. Do mesmo modo dos que se instalam em uma hospedaria.
[12.1] Se queres progredir, abandona pensamentos como estes: “Se eu descuidar dos meus negócios, não terei o que comer”, “Se eu não punir o servo, ele se tornará inútil”. Pois é melhor morrer de fome, sem aflição e sem medo, que viver inquieto na opulência.
[26] Aprende-se o propósito da natureza a partir do que não discordamos uns dos outros. Por exemplo: Morre o filho ou a mulher de outro? Não há quem não diga: “É humano”. Mas quando morre o próprio , diz-se prontamente: “Ó desafortunado que sou!” É preciso que lembremos como nos sentimos quando ouvimos a mesma coisa acerca dos outros.
[28] “Se alguém entregasse teu corpo a quem chegasse, tu te irritarias. E por que entregas teu pensamento a quem quer que apareça, para que, se ele te insultar, teu pensamento se inquiete e se confunda? Não te envergonhas por isso?” (Epicteto, pg.51)
[29.7] É preciso que assumas ou a arte acerca das coisas interiores ou acerca das exteriores. Isto é: que assumas ou o posto de filósofo ou o de homem comum.
[33.2] Na maior parte do tempo, fica em silêncio, ou, com poucas palavras, fala o que é necessário. Raramente, quando a ocasião pedir, fala algo, mas não sobre coisa ordinária: nada sobre lutas de gladiadores, corridas de cavalos, nem sobre atletas, nem sobre comidas ou bebidas – assuntos falados por toda parte. Sobretudo não fales sobre os homens, recriminando-os, ou elogiando-os, ou comparando-os. [33.3] Então, se fores capaz, conduz a tua conversa e a dos que estão contigo para o que é conveniente. Porém, se te encontrares isolado em meio a estranhos, guarda silêncio. [33.4] Não rias muito, nem sobre muitas coisas, nem de modo descontrolado. [33.5] Recusa-te a fazer juramentos, se possível por completo. Senão, na medida do possível.
[33.9] Se te disserem que alguém, maldosamente, falou coisas terríveis de ti, não te defendas das coisas ditas, mas responde que “Ele desconhece meus outros defeitos, ou não mencionaria somente esses”
[33.15] Desiste também de provocar risadas, pois tal atitude resvala na vulgaridade, como também pode fazer com que os teus próximos percam o respeito por ti.
[34] Quando apreenderes a representação de algum prazer – ou de alguma outra coisa – guarda-te e não sejas arrebatado por ela. Que o assunto te espere: concede um tempo para ti mesmo. Lembra então destes dois momentos: um, no qual desfrutarás o prazer; e outro posterior, no qual, tendo-o desfrutado, tu te arrependerás e criticarás a ti mesmo. Compara então com esses dois momentos o quanto, abstendo-te , tu te alegrarás e elogiarás a ti próprio. Porém, caso a ocasião propícia para empreender a
ação se apresente, toma cuidado! Que não te vençam sua doçura e sua sedução. Compara isso ao quão melhor será para ti teres a ciência da obtenção da vitória.
[33.7] Acolhe as coisas relativas ao corpo na medida da simples necessidade: alimentos, bebidas, vestimenta, serviçais – mas exclui por completo a ostentação ou o luxo.
[35] Quando discernires que deves fazer alguma coisa, faz. Jamais evites ser visto fazendo-a, mesmo que a maioria suponha algo diferente sobre . Pois se não fores agir corretamente, evita a própria ação. Mas se corretamente, por que temer os que te repreenderão incorretamente?
[41] É sinal de incapacidade ocupar-se com as coisas do corpo, tal como exercitar-se muito, comer muito, beber muito, evacuar muito, copular muito. É preciso fazer essas coisas como algo secundário: que a atenção seja toda para o pensamento.
[43] Toda coisa tem dois lados: um suportável e outro não suportável. se teu irmão for injusto , não o tomes por aí, isto é, que ele é injusto (pois isso não é suportável), mas antes por aqui: que ele é teu irmão, e que fostes criados juntos – assim o tomarás de acordo com o que é suportável.
[44] Estes argumentos são inconsistentes: “Eu sou mais rico do que tu, logo sou superior a ti”; “Eu sou mais eloquente do que tu, logo sou superior a ti”. Mas, antes, estes
são consistentes: “Eu sou mais rico do que tu, logo minhas posses são maiores do que as tuas”; “Eu sou mais eloquente do que tu, logo minha eloquência é maior do que a tua”. Pois tu não és nem as posses, nem a eloquência.
[46.1] Jamais te declares filósofo. Nem, entre os homens comuns, fales frequentemente sobre princípios filosóficos, mas age de acordo com os princípios filosóficos. Por exemplo: em um banquete, não discorras sobre como se deve comer, mas come como se deve.
[48.a] “Postura e caráter do homem comum: jamais espera benefício ou dano de si mesmo, mas das coisas exteriores. Postura e caráter do filósofo: espera todo benefício e todo dano de si mesmo.”
7. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
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7.1. A VIAGEM
[7] “Em uma viagem marítima, se saíres para fazer provisão de água quando o navio estiver ancorado, poderás também pegar uma conchinha e um peixinho pelo caminho. Mas é preciso que mantenhas o pensamento fixo sobre o navio, voltando-te continuamente. Que jamais o piloto te chame. E se te chamar, abandona tudo para que não sejas lançado ao navio amarrado como as ovelhas. Assim também é na vida. Não será um obstáculo se ela te der, ao invés de uma conchinha e um peixinho, uma mulherzinha e um filhinho. Mas se o capitão te chamar, corre para o navio, abandonando tudo, sem te voltares para trás. E se fores velho, nunca te afastes muito do navio, para que, um dia, quando o piloto te chamar, não fiques para trás.” (Epicteto, pg.41)
7.2. O PALCO
[17] “Lembra que és um ator de uma peça teatral, tal como o quer o autor . Se ele a quiser breve, breve será. Se ele a quiser longa, longa será. Se ele quiser que interpretes o papel de mendigo, é para que interpretes esse papel com talento. se de coxo, de magistrado, de homem comum. Pois isto é teu: interpretar belamente o papel que te é dado – mas escolhê-lo, cabe a outro.” (Epicteto, pg.46)
7.3. A MORTE
[21] “Que estejam diante dos teus olhos, a cada dia, a morte, o exílio e todas as coisas que se afiguram terríveis, sobretudo a morte. Assim, jamais ponderarás coisas abjetas, nem aspirarás à coisa alguma excessivamente.” (Epicteto, pg.47)
7.4. RESPEITO AOS DEUSES
[31.1] “Quanto à piedade em relação aos deuses, sabe que o mais importante é o seguinte: que possuas juízos corretos sobre eles (que eles existem e governam todas as coisas de modo belo e justo) e que te disponhas a obedecê-los e a aceitar todos os acontecimentos, seguindo-os voluntariamente como realizações da mais elevada inteligência. Assim, não censurarás jamais os deuses, nem os acusarás de terem te esquecido.“
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[33.1] “Fixa, a partir de agora, um caráter e um padrão para ti próprio, que guardarás quando estiveres sozinho, ou quando te encontrares com outros.”
[48.b1] “Sinais de quem progride: não recrimina ninguém, não elogia ninguém, não acusa ninguém, não reclama de ninguém. Nada diz sobre si mesmo – como quem é ou o que sabe. Quando, em relação a algo, é entravado ou impedido, recrimina a si mesmo. Se alguém o elogia, se ri de quem o elogia. Se alguém o recrimina, não se defende.”
[51.2] “Então, a partir de agora, como um homem feito e que progride, considera a tua vida merecedora de valor. E que seja lei inviolável para ti tudo o que se afigurar como o melhor. Então se uma tarefa árdua, ou prazerosa, ou grandiosa, ou obscura te for apresentada, lembra que essa é a hora da luta, que essa é a hora dos Jogos Olímpicos, e que não há mais nada pelo que esperar, e que, por um revés ou um deslize, perde-se o progresso ou o conserva.
[51.3] Deste modo Sócrates realizou-se: de todas as coisas com que se deparou, não cuidou de nenhuma outra, exceto a razão. E tu, mesmo que não sejas Sócrates, deves viver desejando ser como Sócrates.
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