A partir somente do documento enviado, explique como um exímio professor de filosofia, qual o problema filosófico que o autor tentar resolver e qual sua teoria para resolvê-lo. Explique de forma aprofundada de forma a proporcionar um completo domínio do assunto.
O problema filosófico que Robert Brandom tenta resolver em Articulando Razões está centrado na questão da natureza do conceitual, especialmente no que distingue o uso de conceitos pelas criaturas discursivas (seres humanos) de outros tipos de comportamentos animais ou mecânicos que não utilizam conceitos. Sua principal preocupação é entender como o significado e a consciência são construídos, não por meio de representações mentais, mas através da inferência e da interação pragmática e linguística.
Resumo (meu) "grosso modo": O sistema representacional da filosofia contemporânea é centrado no objeto (é a representação do objeto em relação ao meio externo, que se dá por meio da linguagem, que gera o conceito); já o sistema inferencial proposto por Brandom é centrado nas relações do objeto (são as inferências que o objeto têm, que se dá por meio da linguagem, que gera o conceito). É, respectivamente, o que trata o pensamento linear x pensamento sistêmico. O Inferencialismo assim pode ser entendido como uma explicação linguística ao pensamento sistêmico.
O problema
O desafio fundamental que Brandom aborda é: como podemos entender a mente e os estados conceituais (como crenças, pensamentos, proposições) de maneira que eles sejam explicados não pela correspondência com o mundo externo (a chamada teoria representacional), mas pelo papel que desempenham em inferências dentro de práticas discursivas?
Brandom argumenta que muitas teorias contemporâneas da semântica e filosofia da mente (como as de Fodor e Millikan) colocam uma ênfase excessiva na ideia de que os conceitos e os estados mentais são fundamentalmente representacionais. Isto é, eles assumem que o propósito principal de um conceito ou crença é “representar” ou “refletir” o mundo externo. Para Brandom, essa visão é limitada.
A teoria de Brandom: Inferencialismo e Pragmática
Para resolver o problema, Brandom propõe uma abordagem inferencialista e pragmatista, em oposição à abordagem representacionalista. Sua tese principal é que o significado de uma expressão ou conceito não reside tanto naquilo que ele representa no mundo, mas no papel que desempenha nas inferências que fazemos ao usá-lo. Ou seja, o que define um conceito não é o objeto externo que ele designa, mas as relações inferenciais que ele tem com outros conceitos e afirmações.
Ele divide sua abordagem em dois pilares principais:
- Inferencialismo: As práticas discursivas humanas (como afirmar, questionar, argumentar) são, por natureza, inferenciais. Quando dizemos algo, fazemos isso não apenas para relatar um fato, mas para implicar outras afirmações e justificar a aplicação de conceitos. Esse sistema de justificações e inferências cria o significado. Por exemplo, afirmar “Leo é um leão” implica inferências como “Leo é um mamífero” ou “Leo não é um réptil”. Assim, o conceito de “leão” tem seu significado moldado por seu lugar em uma rede de inferências.
- Pragmatismo Linguístico: Brandom defende que os conceitos são essencialmente práticos, ou seja, saber o significado de um conceito é saber como usá-lo em práticas discursivas, como dar razões ou justificar ações. Isso significa que a linguagem é central para a compreensão da mente e do significado. A consciência e os estados intencionais não surgem “antes” da linguagem, mas são formados em práticas sociais de uso linguístico.
Aplicação Prática
Essa teoria pode ser aplicada em vários contextos. Na prática científica, por exemplo, o conhecimento é construído através da explicitação de inferências que são justificadas com base em outros conceitos e observações. O mesmo se aplica ao raciocínio moral: nossas crenças morais são inferências de outras crenças e avaliações, não simplesmente reflexos de um “mundo moral” externo.
Em resumo, Brandom propõe uma reformulação radical de como entendemos o significado e a mente. Ele desloca a ênfase da representação para a inferência, argumentando que a verdadeira chave para entender a natureza do conceitual está nas práticas discursivas de dar e pedir razões, tornando o papel da linguagem central para o que significa pensar e ser consciente.
Vamos então proceder com um resumo descritivo e completo das seções e tópicos do documento de Robert Brandom, Articulando Razões. Cada parte será abordada de forma objetiva para facilitar o fichamento bibliográfico.
1. Introdução
Brandom inicia explicando que o objetivo central do livro é abordar a natureza do conceitual, com um foco na ideia de que os significados das expressões e os estados intencionais devem ser compreendidos através de seu papel inferencial. Ele propõe que a inferência tem prioridade sobre a referência na explicação semântica e discute como essa ideia é aplicada em várias áreas, como a teoria da ação, a epistemologia e a objetividade conceitual. O objetivo é estabelecer uma visão clara do que significa aplicar um conceito a algo, destacando o papel das práticas discursivas.
2. Assimilação ou diferenciação do conceitual?
Aqui, Brandom explora a distinção entre o uso de conceitos por seres humanos e o comportamento de criaturas não discursivas. Ele sugere que as teorias que tentam assimilar as atividades conceituais a atividades não conceituais (como a absorção de informações ambientais) correm o risco de minimizar as diferenças importantes. Brandom se concentra nas descontinuidades, argumentando que o uso de conceitos por humanos é fundamentalmente diferente do comportamento de organismos não discursivos, o que coloca seu projeto em oposição às teorias semânticas contemporâneas que buscam mais continuidades.
3. Platonismo conceitual ou pragmatismo?
Nesta seção, Brandom contrasta duas abordagens explicativas sobre o uso de conceitos: a platonista, que começa com uma compreensão prévia do conteúdo conceitual, e a pragmatista, que se baseia no uso de conceitos para elaborar o conteúdo. Ele defende um tipo de pragmatismo conceitual, que entende a prática discursiva como algo anterior à explicitação conceitual, enfatizando que o conteúdo conceitual emerge da prática de aplicação de conceitos.
4. A mente ou a linguagem são o locus fundamental da intencionalidade?
Aqui, Brandom discute a mudança filosófica que ocorreu do mentalismo ao linguístico, onde a linguagem começou a ser vista como anterior à mente no processo de atribuição de intencionalidade. Ele examina a visão de autores como Dummett, que sugere que o julgamento é uma interiorização de um ato externo de afirmação, e Davidson, que argumenta que linguagem e pensamento são interdependentes. Brandom adota uma abordagem relacional, onde a intencionalidade é tratada como um fenômeno essencialmente linguístico.
5. O gênero da atividade conceitual: representação ou expressão?
Brandom critica a abordagem tradicional da consciência como representação, uma visão que remonta a Descartes e continua em teorias modernas. Ele propõe, em vez disso, que a atividade conceitual seja vista como uma questão de expressão, inspirando-se em Herder e na tradição romântica, onde a mente é vista como algo que expressa, em vez de apenas refletir o mundo externo.
6. Intensionalismo ou inferencialismo?
Nesta parte, Brandom diferencia sua abordagem inferencialista das abordagens intensionalistas. Ele sugere que o que distingue o conceitual é sua articulação inferencial, e não a simples substituição de expressões correferenciais. Ele defende que as práticas discursivas envolvem compromissos inferenciais que moldam o conteúdo conceitual, colocando o foco na interação prática e no raciocínio em vez de na mera representação.
7. Explicação semântica de baixo para cima ou de cima para baixo?
Brandom explora duas abordagens à explicação semântica: a tradicional, que começa com os elementos simples (como termos singulares) e constrói o significado de cima para baixo, e sua própria abordagem, que começa com o uso de proposições inteiras (conteúdo proposicional) e se move para os elementos menores. Ele defende que o conteúdo proposicional tem prioridade na explicação do significado.
8. Atomismo ou holismo?
Aqui, Brandom defende o holismo semântico, argumentando que o conteúdo conceitual depende das relações inferenciais entre muitos conceitos. Ele critica o atomismo semântico, que trata os significados dos elementos linguísticos como independentes uns dos outros. Segundo Brandom, compreender um conceito implica compreender muitos outros, dada a natureza inferencial das práticas discursivas.
9. Expressivismo tradicional ou racionalista?
Nesta seção, Brandom distingue entre o expressivismo romântico tradicional, que vê a expressão como uma exteriorização de algo interno, e o expressivismo racionalista, que ele adota. Para Brandom, a expressão é uma questão de tornar explícito o que é implícito no raciocínio e na prática discursiva, onde a explicitação conceitual envolve a aplicação de conceitos.
10. A tarefa semântica da lógica é epistemológica ou expressiva?
Brandom argumenta que a lógica deve ser vista como uma ferramenta expressiva, em vez de uma ferramenta epistemológica. Ele sugere que a lógica nos permite tornar explícitas as inferências que já estão implícitas nas práticas discursivas comuns. Assim, a lógica codifica de forma explícita o que está implícito no uso conceitual.
11. A relação entre percepção e ação
Brandom explora como a percepção e a ação se articulam dentro de um quadro inferencial. Ele defende que a percepção envolve comprometimentos inferenciais que resultam de observações, e que a ação é articulada inferencialmente através de seus resultados intencionais. Essa relação é central para a compreensão do significado prático e conceitual das atividades humanas.
Conclusão Geral
A obra de Brandom, resumida nos tópicos acima, oferece uma nova maneira de entender o significado e a mente, deslocando a ênfase da representação para a inferência. Seu objetivo é reformular a filosofia contemporânea, destacando o papel central das práticas discursivas, das inferências e da linguagem na constituição do conteúdo conceitual e da racionalidade humana.
II. Contexto histórico: racionalismo, pragmatismo e expressivismo
Nesta seção, Brandom discute o pano de fundo histórico que molda sua abordagem inferencialista e expressivista do significado e da linguagem. Ele coloca seu trabalho dentro da tradição do racionalismo pragmático, contrastando-o com o empirismo dominante na filosofia anglo-americana do século XX, que remonta a Locke. O empirismo, segundo Brandom, destaca a origem do conhecimento na experiência sensorial e no papel da linguagem e da lógica no conhecimento, mas ele procura afastar-se desse quadro, oferecendo um modelo alternativo baseado no pragmatismo racionalista.
Ele elogia o racionalismo inferencialista de Hegel, no qual o significado é compreendido em termos de articulação inferencial dentro de práticas discursivas. Brandom compara sua abordagem com outras formas de pragmatismo semântico, como aquelas de Dewey, Heidegger, Wittgenstein, Quine e Rorty, observando que o pragmatismo racionalista que ele defende é distinto em sua ênfase nas práticas de dar e pedir razões como central para o conteúdo conceitual.
Brandom também destaca a importância do expressivismo racionalista, que difere do expressivismo romântico tradicional. Ele argumenta que o expressivismo que propõe permite uma abordagem mais detalhada para entender o papel expressivo da linguagem, em particular o papel do vocabulário normativo (discutido no Capítulo 2) e do vocabulário intencional e representacional (Capítulo 5). Ao longo desta seção, ele argumenta pela relevância de sua abordagem no contexto da filosofia contemporânea da linguagem e da mente, distanciando-se do empirismo sem rejeitar a importância da experiência perceptiva na epistemologia e na semântica .
III. Estrutura do livro
Nesta seção, Brandom explica como o livro é estruturado. Ele menciona que os seis capítulos principais do livro derivam de ideias que foram originalmente apresentadas em seu trabalho anterior, Making It Explicit (1994), com palestras adaptadas para audiências que podem não ter se aprofundado nesse grande volume, mas que estão interessadas nos principais temas filosóficos. Cada capítulo é projetado para ser inteligível por si só, mas juntos fornecem uma visão abrangente de alguns dos principais argumentos da filosofia da linguagem e do pensamento defendidos por Brandom.
- O Capítulo 1, “Inferencialismo Semântico e Expressivismo Lógico”, apresenta as ideias fundamentais sobre o conteúdo conceitual ser derivado do papel inferencial que desempenha no raciocínio. Brandom também discute como o vocabulário lógico torna essas relações inferenciais explícitas.
- O Capítulo 2, “Ação, Normas e Raciocínio Prático”, estende essa abordagem inferencialista ao raciocínio prático, incluindo ações intencionais como transições discursivas que não são inferências, mas resultam de intenções.
- O Capítulo 3, “Insights e Blindspots do Confiabilismo”, aborda a confiabilidade de processos perceptuais e suas implicações para a epistemologia.
- O Capítulo 4 discute como a noção de substituição permite aplicar a semântica inferencial a termos singulares e predicados.
- O Capítulo 5, “Uma Rota Social do Raciocínio à Representação”, explora o papel do vocabulário representacional e intencional na articulação de pensamentos e ações.
- O Capítulo 6, “Objetividade e a Estrutura Normativa Fina da Racionalidade”, argumenta sobre as normas que regem a prática de dar e pedir razões, destacando a importância da objetividade conceitual e do papel das avaliações inferenciais nas afirmações .
Esses resumos fornecem uma visão detalhada e abrangente de cada seção, de modo que você possa usá-los como base para seu fichamento bibliográfico.
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