O Fenômeno Humano – Teilhard de Chardin
Ubirajara T Schier
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo resumir e explicar as principais ideias do autor extraídas por meio da leitura da obra. Para isso, serão apresentadas as citações e as explicações sobre as mesmas, bem como as palavras-chave para pesquisas posteriores.
III. O Pensamento
Capítulo I – O Nascimento do Pensamento
1. O Passo da Reflexão
A) O Passo Elementar. Hominização do Indivíduo
Página 169: Do ponto de vista experimental, que é nosso, a Reflexão, como a própria palavra o indica, é o poder adquirido por uma consciência de se dobrar sobre si mesma e de tomar posse de si mesma como de um objecto dotado da sua própria consistência e do seu próprio valor: já não só conhecer – mas conhecer-se a si próprio; já não só saber – mas saber que se sabe. Com esta individualização de si próprio no fundo de si próprio, o elemento vivo, até aí espalhado e dividido sobre um círculo difuso de percepções e de actividades, acha-se constituído, pela primeira vez, em centro punctiforme onde todas as representações e experiências se enlaçam e se consolidam num conjunto consciente da sua organização.
Conceito: “O Homem e a Consciência” – Um dos atributos que caracterizam a espécie humana é a consciência: a capacidade de perceber-se a si mesmo enquanto ser, o reconhecimento do “eu”.
Página 170: Posto o que, pergunto: Se, como se deduz do que precede, é o facto de se encontrar «reflexivo », que constitui o ser verdadeiramente «inteligente », poderemos seriamente duvidar de que a inteligência é o apanágio evolutivo do Homem e só do Homem? E poderemos portanto, com não sei que falsa modéstia, hesitar em reconhecer que a sua posse representa para o Homem um avanço radical em relação a toda a Vida antes dele? Bem entendido, o animal sabe. Mas, com toda a certeza, não sabe que sabe. De outro modo, ele teria há muito tempo multiplicado as invenções e desenvolvido um sistema de construções internas que não poderiam escapar à nossa observação. Por conseguinte, é-lhe vedado um domínio do Real, no qual nós nos ‘movemos – mas onde ele não pode entrar. Um fosso – ou um limiar – para ele intransponível, nos separa. Relativamente a ele, porque somos reflexivos, não somos apenas diferentes, mas outros. Não já simples mudança de grau – mas mudança de natureza – que resulta de uma mudança de estado.
Conceito: “O Animal e a Consciência” – Diferente do homem, os animais não são dotados de consciência. Embora por um momento pareçam saber algo, esse saber é instintivo e não consciente. O animal apenas faz, sem se perceber como autor da ação. O caráter reflexivo da consciência, entretanto, coloca o homem em um estado de natureza único e distinto entre todos os seres vivos do planeta.
Página 172: Em primeiro lugar, apreendemos melhor o facto e a razão da diversidade dos comportamentos animais. Desde que a Evolução é transformação primariamente psíquica, não há um instinto na Natureza, mas uma multidão de formas de instinto, cada um dos quais corresponde a uma solução particular do problema da Vida. O psiquismo de um Insecto não é (e já não pode ser) o de um Vertebrado – nem o instinto de um Esquilo o de um Gato ou de um Elefante: e isto, devido precisamente à posição de cada um na Árvore da Vida.
Conceito: “Instinto e Evolução dos Animais” – A evolução de cada espécie animal consiste na transformação psíquica necessária para que esta possa se adaptar às condições de sobrevivência ao ambiente. Os instintos de cada espécie animal são, portanto, as ferramentas que cada uma possui para essa tarefa.
Página 176: A primeira é que, para chegar, no Homem, ao passo da Reflexão, a Vida teve de preparar, desde muito cedo e simultâneamente, um feixe de factores, cuja «providencial» ligação nada, à primeira vista, permitiria supor. Em fim de contas, é verdade, toda a metamorfose hominizante se reduz, do ponto de vista orgânico, a uma questão de melhor cérebro. Mas como é que este aperfeiçoamento cerebral se teria produzido – como teria podido funcionar – se uma série inteira de outras condições não se encontrassem, ao mesmo tempo, e todas em conjunto, realizadas? .. Foi graças à bipedia libertadora das mãos que o cérebro pôde avolumar-se; e foi, ao mesmo tempo, graças a ela que os olhos, acercando-se um do outro na face tornada mais reduzida, puderam começar a convergir e a fixar o que as mãos agarravam, aproximavam e apresentavam em todos os sentidos: o próprio gesto, exteriorizado, da reflexão! …
Conceito: “A bipedia como origem da reflexão” – A tomada de consciência, ou seja, o momento a partir do qual o homem evoluiu para a condição de ser consciente e reflexivo, ocorre quando este passa a se locomover a partir de seus dois membros posteriores ou pernas. Todas mudanças físicas e perceptivas dessa mudança de forma de locomoção, bem como a readaptação do homem (agora com novos recursos), possibilitaram, além da reflexão, o desenvolvimento de sua capacidade criativa.
Página 177: Que o nascimento da inteligência corresponda a um reviramento sobre si mesmo, não só do sistema nervoso, mas do ser todo inteiro, com prazer o admitimos. Em contrapartida, o que nos aterra, à primeira vista, é ter de verificar que este passo, para ser executado, teve de ser dado de uma só vez.
Página 178: E é somente aqui que acaba de revelar-se a natureza do passo da reflexão. Mudança de estado, em primeiro lugar. Mas, em seguida, e por isso mesmo, começo de outra espécie de vida – precisamente essa vida interior que mencionei acima.
Conceito: “O Nascimento da Inteligência: Uma mudança de estado para uma nova espécie de vida” – Considera que a evolução do homem para um ser consciente e inteligente ocorreu por meio de uma mudança de radical de estado físico e mental, transformando-o em uma nova espécie de vida ainda não existente no planeta.
B) O Passo Filético. A Hominização da Espécie
Página 181: Assim, pois, através do salto da inteligência, cuja natureza, e mecanismo acabamos de analisar na partícula pensante, a Vida continua, de certo modo, a expandir-se como se nada se houvesse passado. É mais que evidente que, no Homem como nos animais, depois como antes do limiar do pensamento, propagação, multiplicação, ramificação seguem a sua rotina habitual. Nada mudou, dir-se-ia, na corrente. Mas as águas já não são as mesmas. … Mas o que é oportuno salientar aqui, sem mais demora, são três particularidades que, a partir do passo do Pensamento, se irão manifestando em todas as operações ou produções, quaisquer que sejam, da Espécie. A primeira destas particularidades diz respeito à composição dos novos ramos ; – a segunda, ao sentido geral do seu crescimento ; – a última, enfim, às relações ou diferenças de conjunto entre eles e o que tinha desabrochado antes deles na Árvore da Vida.
Conceito: Trata das mudanças provocadas pelo homem enquanto espécie social, ou seja, das mudanças decorrentes não apenas do indivíduo consciente e inteligente, e sim de toda uma espécie dotada dos mesmos atributos.
a) A composição dos ramos humanos:
Página 182: …a distribuição das espécies realiza-se muito satisfatoriamente, abaixo do Homem, por meio de critérios puramente morfológicos. A partir do Homem, pelo contrário, surgem as dificuldades. Reina ainda, como bem o sentimos, uma extensa confusão no que toca ao significado e à repartição dos grupos tão variados em que se fragmenta perante os nossos olhos a massa humana: raças, nações, estados, pátrias, culturas, etc. Nestas categorias, diversas e movediças, tende-se, em geral, a distinguir apenas unidades heterogéneas, umas naturais (a raça… ), outras artificiais (a nação… ), que se sobrepõem irregularmente umas às outras nos diferentes planos.
Conceito: “Sub-divisões da espécie humana” – Apesar de pertencer naturalmente à uma mesma espécie, percebem-se características que agrupam os indivíduos da espécie em função de atributos naturais – como raça, cor da pele, etc – mas também em função de atributos criados pela própria espécie – como as nacionalidades.
b) O sentido geral de crescimento:
Página 184: Mais atrás, ao observar a Árvore da Vida, notávamos este carácter fundamental: que, ao longo de cada ramo zoológico, os cérebros aumentam e se diferenciam. Para definir o prolongamento e o equivalente desta lei acima do passo da reflexão, bastar-nos-á doravante dizer: «Ao longo de cada linhagem antropológica, o Humano busca-se a si próprio e cresce ».
Conceito: “A Sequência Evolutiva” – Ao observar a Árvore da Vida, evidencia-se fisicamente o crescimento evolutivo do ser humano. A cada ramo zoológico, a consciência do homem amplia-se e este então evolui.
c) Relações e diferenças:
Página 187: No Homem, considerado como grupo zoológico, prolongam-se ao mesmo tempo: a atracção sexual com as leis da reprodução ; a tendência para a luta pela vida, com as suas competições; a necessidade de se alimentar, com o gosto de apreender e devorar; a curiosidade de ver, com o prazer da investigação; o desejo de aproximação mútua para viver em sociedade … Cada uma destas fibras atravessa cada um de nós, vindo de mais baixo e subindo mais alto do que nós ; de modo que, relativamente a cada uma delas, poderia ser recomposta uma história ( e não a menos verdadeira ! ) de toda a evolução: evolução do amor, evolução da guerra, evolução da pesquisa, evolução do sentido social..; Mas também, cada uma delas, precisamente por ser evolutiva, se metamorfoseia à passagem da reflexão. E daí ela parte novamente, enriquecida de possibilidades, de cores e de fecundidades novas. A mesma coisa, num certo sentido. Mas também uma coisa inteiramente diversa. A figura que se transforma ao mudar de espaço e de dimensões… A descontinuidade, repetimos, sobre o contínuo. A mutação sobre a evolução.
Conceito: “Diferenças dos particulares” – São as diferenças construídas a partir da reflexão de cada indivíduo da espécie que o torna cada homem único em sua existência. A reflexão e a consciência de cada um sobre o que lhe acontece na vida é o que torna a existência de um ser humano diferente e única em relação à todas as demais.
C) O Passo Terrestre Planetário. A Noosfera
Página 189: «A mudança de estado biológico que leva ao despertar do Pensamento não corresponde simplesmente a um ponto crítico atravessado pelo indivíduo, ou mesmo pela Espécie. Mais vasta do que isso, ela afecta a própria Vida na sua totalidade orgânica, – e, por conseguinte, assinala uma transformação que afecta o estado do planeta inteiro.»
Página 190: É verdadeiramente uma camada nova, a «camada pensante », exactamente tão extensiva, mas muito mais coerente ainda, como veremos, do que todas as camadas precedentes, que, após ter germinado no Terciário declinante, se expande desde então por cima do mundo das Plantas e dos Animais : fora e acima da Biosfera, uma Noosfera.
Conceito: Não somente a consciência do indivíduo, mas também a esfera da consciência da espécie humana no planeta como um todo e tudo que nele habita, ou seja, a consciência humana planetária constitui assim o que se denomina por noosfera.
Capítulo II – O Desdobramento da Noosfera
Neste capítulo o autor caracteriza cada fase evolutiva do homem na noosfera, desde seus primórdios, até o homem que conhecemos hoje.
A forma que se pode acompanhar a evolução do homem se dá, principalmente, por meio do estudo dos fósseis e dos artefatos arqueológicos produzidos pelo homem encontrados nas diversas partes do mundo ao longo da história. A falta de registro de fósseis do homem antes deste se tornar consciente corrobora a teoria de um salto evolutivo.
A noosfera foi assim habitada pelo homem em suas diversas fases evolutivas: dos pré-hominianos e neanderthalóides ao homo sapiens. Cada um por sua vez, junto com seu crescimento e evolução, levou também à noosfera ao desenvolvimento de características únicas pertinentes ao nível de consciência alcançado pelo homem.
Capítulo III – A Terra Moderna
Mudança de Idade
Página 228: Mudanças econômicas, em primeiro lugar. Por mais evoluída que fosse, a nossa civilização, há apenas duzentos anos, moldava-se ainda ao solo e à partilha do solo. O tipo de «riqueza », o núcleo da família, o protótipo do Estado ( e até do Universo! ) era ainda, como nos primeiros tempos da Sociedade, o campo cultivado, a base territorial. Ora, pouco a pouco, nestes últimos tempos, em consequência da « dinamização» do dinheiro, a propriedade diluiu-se numa coisa fluida e impessoal- tão movediça que a riqueza das próprias nações já quase nada tem de comum com as suas fronteiras.
Conceito: Acompanhando o processo evolutivo do homem, segue as mudanças econômicas provocadas pelo mesmo. A velocidade de transformação dos meios produtivos em apenas duzentos anos, ocorre em escala geométrica quando comparada com as mudanças e progressos anteriores.
Página 229: Mudanças industriais, em seguida. Até ao século XVIII, e apesar de muitos aperfeiçoamentos introduzidos, uma única energia química conhecida, o Fogo; – e uma única energia mecânica utilizada : os músculos, multiplicados pela máquina; dos homens e dos animais. Mas a partir de então! . Mudanças sociais, enfim. O despertar das massas.
Conceito: Outro grande avanço provocados pelo homem diz respeito as mudanças provocadas pela evolução dos meios produtivos industriais e o respectivo impacto nos meios sociais necessários para torná-la possível.
Página 248: Passamos neste mesmo momento por uma mudança de Idade. Idade da Indústria. Idade do Petróleo, da Eletricidade e do Átomo. Idade da Máquina. Idade das grandes colectividades e da Ciência… O futuro decidirá qual o melhor nome para qualificar esta era em que entramos. O termo pouco importa. O que conta, em contrapartida, é o facto de podermos dizer para connosco que, à custa do que sofremos, um passo mais, um passo decisivo da Vida se está a dar em nós próprios e à nossa volta. Após a longa maturação efetuada sob a fixidez aparente dos séculos agrícolas, a hora sempre chegou, assinalada pelas inevitáveis angústias de uma nova mudança de estado. Houve Homens para ver as nossas primeiras origens. Haverá Homens para assistir às grandes cenas do Fim. A sorte, e a Honra, das nossas breves existências é de estas coincidirem com uma muda da Noosfera…
Conceito: O crescimento do homem determina fases distintas de sua presença na noosfera. O progresso da tecnologia e o respectivo impacto tanto nos meios produtivos quanto sociais apresentam suas vantagens e desvantagens. Cada era traz seus benefícios e consigo também a crise que obrigará o homem a ingressar em uma nova era que o próprio construirá.
2. O Problema da Ação
A) A Inquietação Moderna
Página 244: Que, sob uma forma primordial, a ansiedade humana está ligada ao próprio aparecimento da Reflexão, e que portanto é tão antiga como o próprio Homem, é um facto evidente. Mas que, sob o efeito de uma Reflexão que se socializa, os homens de hoje são particularmente inquietos – mais inquietos do que em momento algum da História -, também penso que de tal não se pode seriamente duvidar. Consciente ou inconfessada, a angústia, uma angústia fundamental do ser, surge, apesar dos sorrisos, no fundo do coração, ao cabo de todas as conversações.
Conceito: Um dos fatores que parece vir crescendo na mesma velocidade com que ocorrem as mudanças provadas pelo homem é a ansiedade. Originadas a partir do aparecimento da reflexão, é tão antiga quanto o próprio homem.
B) As Exigência de Futuro
Página 250: Quanto mais o Homem se tornar Homem, menos aceitará mover-se, a não ser para algo de interminamente e indestrutivelmente novo. Algo de « absoluto » se acha implicado no próprio jogo da sua operação.
C) O Dilema e a Opção
Página 251: E, por isso mesmo, por termos avaliado a gravidade verdadeiramente cósmica do mal que nos perturba, eis-nos agora na posse do remédio que pode curar a nossa ansiedade. «Depois de haver caminhado até ao Homem, não terá o Mundo parado? Ou, se nós ainda caminhamos, não será num círculo de onde não podemos sair ?» A resposta a esta inquietação do Mundo moderno surge de per si, por simples formulação do seguinte dilema em que a análise da nossa Acção acaba de nOS encerrar. «Ou a Natureza se fecha às nossas exigências de futuro; e então o Pensamento, fruto de milhões de anos de esforço, asfi xia, nado-morto, num Universo absurdo que se aborta a si mesmo ; ou existe uma saída – uma sobre alma acima das nossas almas. Mas então esta saída, para que aceitemos meter-nos por ela, tem de dar sem restrição para espaços psíquicos ilimitados, num Universo em que possamos cega mente fíar-nos.»
REFERÊNCIAS
CHARDIN, Pierre Teilhard De. O Fenômeno Humano; [tradução de León Bourdon e José Terra]. Porto: Livraria Tavares Martins, 1970.
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