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89 | [ REGRAS E EXCEÇÕES ]
As regras ensinam a reproduzir, a repetir. As exceções mostram como fazer o novo, como produzir. Umas e outras se complementam. Ambas são necessárias. Talvez seja este o ponto mais difícil do processo de aprendizado: tomar consciência de que não basta continuar repetindo o velho, na esperança de que outras pessoas ou instituições se encarreguem de produzir o novo. Somos homens da regra e da instituição. As exceções nos incomodam. Não gostamos das pessoas que produzem exceções por dois motivos: primeiro, porque nos lembram que é possível mudar; segundo, porque, no fundo, gostaríamos de ser como elas, mas nossa acomodação nos tornou medrosos demais para isso. O pensamento linear que aprendemos na escola só serve para lidar com metade das coisas da vida – a metade linear. Foi julgado suficiente até hoje. Só que agora as necessidades são outras e ele precisa ser complementado. Continuará sendo útil para o que é seqüencial, mas precisará de ajuda para entender o aleatório, aquilo que exige escolhas, tomadas de posição, intelecto combinado com intuição. Eis o que é indispensável entender. Durante milênios tivemos como certo que a resistência à mudança, supostamente própria do ser humano, era algo com que teríamos que nos resignar. Só que as mudanças não eram tantas, nem se processavam tão rapidamente como acontece nos tempos atuais. Hoje estamos diante de um quadro em que a própria noção de resistência terá que mudar – queiramos ou não. Se a resistência é uma forma de ignorância, ou se a ignorância é uma forma de resistência, não importa; o que é certo é que ambas são uma forma de aprisionamento. |
90 | [ EDUCAÇÃO, MEDO E EMPRESA ]
A relação entre a educação e o medo é de extrema importância. Não podemos aprender seja o que for, sem que ao mesmo tempo aprendamos algo sobre nós mesmos. Assim o medo de aprender significa, em última análise, o temor do autoconhecimento. O medo é sempre o medo de crescer, de amadurecer, de ter de decidir nossos destinos por nós mesmos, sem tutelas e protecionismos. |
91 | [ INTERVALO DE CRIAÇÃO ]
Na rotina do dia-a-dia, sempre que surge um fato novo o condicionamento linear nos diz: “Vamos pensar sobre o assunto.” A abertura de um espaço criativo propõe uma alternativa: “Não vamos pensar: em certos momentos a mente precisa estar vazia, precisa ser temporariamente uma não-mente.” Ambas são formas de aprender. Mas há uma terceira: combinar o pensamento da mente (a reflexão) com a intuição da não-mente (a meditação). |
93 | [ COMEÇAR DE NOVO ]
Para a mente acostumada ao pensamento seqüencial, as mudanças só serão aceitas – e mesmo assim com muita dificuldade – por essa via. Retomemos o exemplo da amostragem estatística: a mente racional só aceitou a necessidade da aleatoriedade (da irracionalidade, portanto), depois que ficou demonstrado que ela fazia sentido. E fazer sentido, linearmente falando, é ter aplicabilidade prática. Ou, organizacionalmente falando, produzir resultados mensuráveis. |
94 | [ O MENSURÁVEL E O NÃO MENSURÁVEL ]
Sabemos que é difícil entender o global por meio de conceitos regionais. Contudo, é indispensável partir deles para chegar a esse entendimento. É necessário partir de referenciais que as pessoas já têm, para aos poucos desconstruí-los e alcançar novos modos de percepção. Trata-se de um processo minucioso, que requer paciência e tolerância. O global nos dá medo, porque nossos quadros de referência são locais. A continuidade com o Universo assusta, porque estamos acostumados às quatro paredes de nossa visão compartimentalizada. O processo de educação para o pensamento sistêmico/complexo deve iniciar-se pelo entendimento desses pontos. Se o objetivo é atingir uma situação em que a dignidade do indivíduo deve permanecer intacta, é preciso começar respeitando-o como ele é atualmente, e não como gostaríamos que ele fosse. |
95 | [ RESPEITO ÀS PESSOAS ]
Assim sendo, eis alguns pontos que, na opinião de John S.Morgan, é preciso observar o seguinte: > não se deve tentar pressionar as pessoas para que elas aceitem mudanças a todo custo. Isso só aumentará a reistência; > a resistência é a regra. O acordo, embora não seja necessariamente uma exceção, não deve ser esperado como se fosse um fato natural, e sim como o resultado de uma mudança de atitude; > é contraproducente ficarmos irritados diante da resistência. A aceitação muito rápida de mudanças deve ser vista sempre com cautela; > a melhor maneira de lidar com a resistência é envolver as pessoas no processo. Todavia, isso só pode ser feito se elas estiverem motivadas; > a falta de clareza é um processo eminentemente emocional. A incredulidade e o negativismo são emoções que bloqueiam seriamente a motivação; > mudanças positivas estimulam a maioria das pessoas; > a completa falta de mudanças deprime a maioria das pessoas; > as mudanças que também elevam o moral são mais bem-vindas do que aquelas cujos resultados são puramente materiais; > os efeitos a longo prazo das mudanças são sempre mais consistentes e mais produtivos do que os de curto prazo. Contudo, poucas pessoas se dão conta disso. |
96 | [ EDUCAÇÃO COMO FONTE DE FELICIDADE ]
Somos todos professores e alunos o tempo inteiro, o que falta é exercer ao máximo essa potencialidade. É preciso não esquecer que a educação formal, tal como a conhecemos hoje, tem 2.500 anos de idade: começou no século V a.C., na Grécia. É um processo que visa a transmissão e memorização da cultura escrita. Mais ainda, pretende que essa cultura seja a única realmente válida. Trata-se, portanto, de uma instituição fechada, que exclui ou apenas tolera outras vertentes do processo educacional, como a educação à distância pela televisão ou, mais atualmente, pela rede global computadorizada. A educação formal vende um produto marcado pelo pensamento linear. Trata-se de um produto de repetição e não de diferença, porque vem de um sistema fechado. A conhecida orientação exclusivamente utilitarista (educar para o vestibular, para o concurso, para passar nesse ou naquele exame) nada tem a ver com educar para a vida. Por isso mesmo, é fator de estímulo à dominação e à submissão. A escola de hoje, ressalvadas as exceções de praxe, é ainda uma instituição fabril em plena era pós-industrial. É uma empresa que, em muitos casos, ainda imagina ser viável a manutenção de uma reserva de saber/poder num mundo cada vez mais informatizado. |
101 | [ ACOMPANHAR A CORRENTE ]
Negar a mudança por falta de atenção para percebê-la é o mesmo que dizer que não conseguimos aprender alguma coisa porque ela é muito difícil. Na ausência de problemas cerebrais, as dificuldades em aprender quase sempre escondem problemas de atenção. Aprender a aprender é desenvolver ao máximo a capacidade de estarmos atentos. Quando nos colocamos em oposição instantânea a alguma idéia nova, o mais provável é que estejamos reagindo automaticamente. O desenvolvimento da atenção opõe-se aos condicionamentos de nossa mente e, portanto, diminui o poder da resposta automática. Estar desatento é quase sempre estar desatento a si mesmo e às próprias experiências. |
102 | [ UM PROCESSO, VÁRIAS PERCEPÇÕES ]
Tudo isso leva a um entendimento de que ensinar e aprender são fase de um único processo. Como o fenômeno partícula/onda, ela admite formas alternantes de percepção. Essa é, por assim dizer, a dimensão quântica da educação. Se estivermos atentos só ao que nos é externo, não aprenderemos nada de prático. No entanto, se nossa atenção for transacional, isto é, se ela for um diálogo entre o nosso mundo interno e o ambiente em que vivemos, o aprendizado acontecerá naturalmente. |
103 | [ FUGA À REALIDADE ]
Vejamos um exemplo, de observação corriqueira nas empresas. Quando estamos apresentando algum tema, ou dando um treinamento, é freqüente que as pessoas não nos deixe chegar ao fim de muitas de nossas frases. Somos a todo momento interrompidos por perguntas, cujo tom e freqüência revelam a grande ansiedade das pessoas que as fazem. A princípio, essa ansiedade parece demonstrar o grande interesse com que nossa fala está sendo acompanhada. Se observamos mais a fundo, porém, perceberemos que não se trata disso. O que realmente essas pessoas querem, mas não percebem, é: obter do expositor definições que possam ser utilizadas como diretivas. Assim, o que foi dito fica sendo um ônus exclusivo de quem expõe. Desse modo, quem pergunta se torna livre de qualquer responsabilidade: “Fiz exatamente como foi ensinado no treinamento; se não deu certo, a culpa não é minha.” … Como se vê, procuramos sempre um culpado, algo externo a que possamos atribuir nossa falta de iniciativa. Enfim, sempre nossa tendência a seguir o que nos é imposto de fora, o que nos é trazido em pacotes prontos, em que a pretensa praticidade esconde um autoritarismo que retarda ou impede o desenvolvimento de novas formas de aprendizagem. |
104 | [ AUTO-ATENÇÃO ]
Uma das melhores formas de aprender, como vimos, é o desenvolvimento da auto-atenção. Isso é particularmente importante em caso de dificuldades. Não estamos falando de egocentrismo, ou coisa parecida, até porque, se não estivermos bem, não poderemos ajudar os outros. Ou por outra, se não estivermos aprendendo constantemente, também não poderemos ensinar do mesmo modo. Convém que perguntemos sempre a nós mesmos: estar atento traz benefícios só para mim, ou também para os outros? Se os benefícios derivados da atenção forem somente pessoais, não estaremos atentos: estaremos apenas espertos. E nesse estado não se aprende nada de útil, em termos de qualidade de vida comunitária. Estar atento leva ao aprendizado e à competência. Estar esperto leva à competição predatória. |
111 | [ OS CAMINHOS DO CONFLITO ]
As pessoas não são máquinas simples. Nem elas, nem suas instituições e organizações. A causalidade simples até funcionaria, se fôssemos sistemas simples. Acontece, porém, que somos sistemas complexos, muito complexos. Eis a diferença que muitos ainda não conseguem entender, ou que entendem apenas intelectualmente e pensam que podem contornar. Todavia, não podem. Existe uma ordem natural das coisas. E, infelizmente, só a perda de muitas vidas e de muito dinheiro irá lentamente fazendo com que as pessoas compreendam que aquilo que parece mais difícil, mais complexo, na verdade é o mais fácil e prático. É óbvio que nadar contra a corrente requer mais esforço. Todos sabemos disso – o que não impede que continuemos nadando exatamente dessa forma. Eis algo fácil de entender racionalmente, mas muito difícil de internalizar: a existência é feita de polaridades. Não existe a luz sem a escuridão, o quente sem o frio, o bem sem o mal, o eu sem o não-eu. Não se pode pensar em vida sem pensar em morte. Não se pode falar em lazer sem falar em trabalho. É impossível falar em simplificação sem falar em complexidade. |
127 | [ O SUPERFICIAL E O PROFUNDO ]
A educação organizacional deve ser profunda, ou nada mudará. Imaginemos duas circunstâncias. Na primeira, jogamos na superfície calma de um lago um paralepípedo de cortiça. O choque enrugará a água em círculos concêntricos. No entanto, dada a leveza da cortiça, ela flutuará e os círculos logo desaparecerão. Façamos o mesmo com uma pedra, e veremos que ela irá rapidamente ao fundo. Além disso, os círculos provocados pelo seu choque com a água sulcarão a superfície com muito mais vigor. Serão mais nítidos e mais amplos. Não basta, portanto, promover mudanças horizontais. É necessário ir até o fundo, verticalizar as mudanças. Lançar uma cortiça à água altera somente a superfície – e por pouco tempo. … As mudanças superficiais criam ansiedade. Isso é natural. Quando estamos boiando na superfície de um lago cuja profundidade não sabemos, ficamos inseguros. Só quando a conhecemos nos tornamos sabedores de quais providências tomar, em caso de um imprevisto: ou nadar para a margem ou plantar os pés no fundo, a depender do caso. O fundo é sólido. Nele podemos fincar alicerces, fundamentos. A mudança que nos revela a que distância ele está e nos indica como conhecê-lo, também a princípio gera insegurança. Contudo, esta é logo substituída pela tranqüilidade de sabermos o que estamos fazendo. |
173 | [ EMPREGABILIDADE ]
A nosso ver, o desenvolvimento pessoal para a empregabilidade se centra em 10 parâmetros básicos: 01. Pensamento sistêmico |
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