O Príncipe de Maquiavel – Capítulos XIV à XVIII

CAPÍTULO XIV – DO QUE COMPETE A UM PRÍNCIPE ACERCA DA MILÍCIA

A primeira razão que te leva a perder teu estado é negligenciar a arte da guerra, e a razão que te faz conquistá-lo é ser conhecedor dela.

Um príncipe que não entenda de exército não poderá ser estimado por seus soldados e nem confiar neles.

Em tempos de paz, o príncipe deve-se ocupar em manter o machado sempre afiado.

CAPÍTULO XV – DAS COISAS PELAS QUAIS OS HOMENS SÃO LOUVADOS OU REPROVADOS

Todo aquele em posição mais elevada sempre estará sujeito ao louvor ou à reprovação e como não somos somente virtudes, a reprovação é certa.

O príncipe portanto não deve se importar em – se preciso for com o propósito de preservar o estado – fazer uso de um vício mascarado de virtude, e vice-versa.

CAPÍTULO XVI – DA LIBERALIDADE E DA PARCIMÓNIA

Que aquele que comanda não deve se preocupar com a fama de ser miserável, pois este é um dos vícios que lhe permitem governar.

Por isso o príncipe não precisa se preocupar com esta fama, pois é melhor ser mesquinho e eventualmente benevolente – sendo assim louvado nestas ocasiões – do que acostumar as pessoas com um status de constante benevolência. Pois esta com o tempo se tornará obrigação, cessando o louvor e causando reprovação quando for preciso ser mesquinho.

CAPÍTULO XVII – DA CRUELDADE E DA PIEDADE E SE É MELHOR SER AMADO OU TEMIDO

Pois os homens têm menos receio de ofender a quem se faz amar do que a outro que se faça temer; pois o amor é mantido pelo vínculo do reconhecimento, que pode ser rompido quando interessar, enquanto o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca te abandona.

O príncipe deve fazer-se temer de modo, se não conquistar o amor, pelo menos evitará o ódio, pois é perfeitamente possível ser temido e não ser odiado.

Por que, ainda que temido, somente serão punidos aqueles que prejudicam a ordem e não as pessoas de bem. As pessoas de bem, na verdade, nada tem a temer se o príncipe for ponderado em seu pensamento e ação e proceder de forma equilibrada, com prudência e humanidade, para que a excessiva confiança não o torne incauto, nem a exagerada desconfiança o faça intolerável.

CAPÍTULO XVIII – QUANTO A MANTER A PALAVRA DADA

O príncipe prudente não pode, nem deve, guardar a palavra dada, quando isso se torna prejudicial ou quando deixem de existir as razões que o haviam levado a prometer.

Existem dois gêneros de combate: um com as leis e outro com a força. O primeiro é próprio do homem, o segundo dos animais. Como frequentemente o primeiro não basta, convém usar o segundo. Portanto é necessário ao príncipe saber usar bem tanto o animal quando o homem.

Para saber usar bem a natureza animal, deve escolher a raposa e o leão. A raposa para reconhecer as armadilhas e o leão para aterrorizar os logos.

Quem melhor se sai é quem sabe valer-se das qualidades da raposa. Mas é preciso saber disfarçar bem essa natureza e ser grande simulador e dissimulador, pois os homens são tão simples e obedecem tanto as necessidades presentes, que o enganador enganará sempre quem se deixar enganar.

Não é necessário de fato ter todas as qualidades, mas é indispensável parecer tê-las. Pois se as tiver e usá-las sempre, serão danosas, ao passo que se parecer tê-las, serão úteis. Assim, deves parecer clemente, fiel e humano.

Os homens, em geral, julgam as coisas mais pelos olhos que com as mãos, porque todos podem ver, mas poucos podem sentir. E esses poucos não ousam opor-se à maioria que apenas vêem.

O que conta por fim são os resultados. Cuide pois o príncipe de vencer e manter o estado: os meios ser~]ao sempre julgados honrosos e louvados por todos, porque o plebe está sempre voltado para as aparências e para o resultado das coisas,e não há no mundo senão a plebe: a minoria não tem vez quando a maioria tem onde se apoiar.

 

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