Pois é…. assunto delicado esse
Sempre quando me perguntam se sou contra a favor… nunca consegui responder “sim” ou “não”… minha resposta sempre foi: “depende”.
Ao mesmo tempo, vinha uma segunda pergunta: “mas depende do quê?” e aí então que eu me complicava… nunca consegui argumentar com precisão o meu “depende”.
Minha resposta continua sendo “depende”… só que hoje, graças à aula de Filosofia Moderna II que faço na Unisinos esse semestre, tive a oportunidade de ter um insight que me permite argumentar de forma coerente esse meu “depende”.
Começou com um trabalho que apresentamos. Escolhi um capítulo do livro “Entendimento Humano” de Locke (Capítulo 27 do Livro II mais especificamente). Sobre este fiz uma crítica (ver aqui na íntegra), onde resumidamente:
Primeiro, segundo Locke:
“Pessoa, penso eu, é um ser pensante inteligente que tem razão e reflexão e pode considerar a si mesmo como si mesmo, a mesma coisa pensante em diferentes tempos e lugares, o que é feito somente pela consciência, que é inseparável do pensamento e, como me parece, lhe é essencial: é impossível para qualquer um perceber sem perceber que percebe.” (Locke, p.176)
Bom… na minha visão… o pensamento, consciência – ou o que queira chamar – ou seja, aquilo que define a pessoa, só pode ocorrer por meio do cérebro, ou seja, o pensamento necessita de um meio físico, corpóreo e material, para se manifestar. Até então, não tenho conhecimento de alguém ter visto um pensamento voando por aí…
Até então tudo bem… mas o que isso tem a ver com o aborto?
Na aula seguinte uma colega apresentou o mesmo capítulo, criticando aqueles que usam os argumentos de Locke para justificar a legalidade do aborto. Resumidamente (muito resumidamente), um feto não seria uma pessoa, pois ainda não pensa e não reconhece a si mesmo como a si mesmo, logo, não sendo uma pessoa, o aborto poderia ser legalizado.
Foi nesse momento que tive um insight… me veio a questão de morte cerebral, ou seja, que havendo morte cerebral a pessoa é declarada oficialmente morta.
bom… então nesse caso… se a morte cerebral determina a morte de uma pessoa, então, “o nascer cerebral” determinaria a vida – ou o início da existência – de uma pessoa? Junto à isso minha conclusão da aula anterior… se o cérebro é necessário para manifestação do pensamento e da consciência, então… o início da existência de uma pessoa ocorreria a partir do momento em que o feto “tivesse cérebro’.
Conhecimentos da medicina e da biologia à parte, deixo para os cientistas determinarem a partir de que o cérebro se desenvolve no cérebro capaz assim de iniciar assim como se entende como atividades cerebrais.
Até então… não conseguia ser contra o aborto pensando nas mulheres vítimas de estupro – desde que fizessem o aborto assim que fosse possível saber da condição de gravidez – mas ao mesmo tempo contra o aborto, caso se passasse muito tempo e o feto já estivesse formado.
Por isso sempre respondi “depende”, pois se não fosse essa circunstância, responderia ser contra sem sombra de dúvida.
Não sou médico ou biólogo, logo, sempre tive dificuldade em explicar esse “depende”… ou seja, não existia uma fronteira clara entre a partir de que momento, durante o período de gestação – eu passaria da opinião de ser a favor para ser contrário ao aborto.
Mas, escrevo esse post com o alívio de que agora posso argumentar com segurança esse meu “depende”:
A partir do momento em que se pode considerar – segundo a ciência – que o feto é dotado de cérebro, então existe o meio físico para o pensamento e a consciência se manifestarem. A partir desse momento, portanto, sou contra. Antes dele, diria simplesmente que não sou contra – ao mesmo tempo que também não posso ser a favor – pois não posso julgar os motivos da mulher que está pensando em fazê-lo.
Desde já não tenho palavras para agradecer à Filosofia, ao professor por ter oportunizado as discussões e à colega por ter trazido esse tema à turma.
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